quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Interessantíssimo. A ler e refletir.
https://duvida-metodica.blogspot.pt/2009/01/o-que-se-ganha-com-leitura-de-bons.html

sexta-feira, 24 de novembro de 2017



Em dia comemorativo de António Gedeão.
PEDRA FILOSOFAL
Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.
eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.
Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.
Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.
In Movimento Perpétuo, 1956

Fonte Prima

Um poema dos nossos alunos, lido na cerimónia de distribuição de diplomas do 1º ciclo, a 24 de novembro.


Fonte Prima

E por detrás da casca
Escondida para lá das nervuras
Esquecida no meio da máscara
Borbulha a fonte prima
Senhora da verdade nua
Despida de vaidade e razão
Reflete à luz da lua
Tudo o que vai no coração.

Ela que dá vida e colhe morte
Não deixa ninguém à má sorte
Espelho que o tempo não corroi
Vontade que prende, quais anzois
Na sua água lava o mal
Para que na sua nobre pureza
Ele volte aquilo que se preza
Muito para além do material.

E se para vós não é já milagre
Olhem mais fundo que milhafre
Qu'o trilho que a miraculosa água demarca
É a linha intransponível que tantos passam
Entre o bem e o mal, a luz e a escuridão
Nela se interlaçam os caminhos da grande multidão.

Vidas e vidas que nela vivem
Indecisas quanto à margem
A tormenta deixam correr
Limitando-se a ver.
Mas se de um lado se escolhem pôr
Trazer para o outro causa dor.
Por isso o norte há que manter
Jamais pensando em correr
Não vá o pé cair ao lado
E ficar o caldo entornado.

De muitos nomes foi chamada
Por muitos profetas citada
Tantos loucos que a viram
As dúvidas que dela não beberam
Não é Deus, nem é destino
Ė o que nós que no eu vive
Mas não aquele que é fingido
Ela é a autêntica essência
Que todos temos na inocência.

Poucos, muito poucos a conhecem
Muitos o pensam saber
Nem veem o quanto a enaltecem
Esse tão simples ser.
Melhor ou pior todos sabemos
Que bem no fundo ela existe
Algures... Dentro ou fora de nós
Enquanto a noite persiste.

Aurora Boreal